sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Epílogo


“A felicidade só é real quando compartilhada”


Com essa frase termina o livro (que depois virou filme) ‘Na Natureza Selvagem’, que conta a estória de Chris McCandless, um jovem que decide abandonar a rotina e viajar sem rumo em busca da liberdade. As semelhanças: o nome e a viagem. A diferença: o motivo. Enquanto o personagem parte em busca de liberdade, o que me moveu foi justamente o contrário: desfrutar a liberdade recém-encontrada, e compartilhar com aqueles que a tornaram possível.



Amanhã completa um ano que tudo começou, e paradoxalmente, como as coisas mais importantes têm acontecido na minha vida ultimamente -, começou com uma “má notícia”. Desde junho de 2009 eu já havia adquirido o direito à licença de 3 meses no meu trabalho, mas como estava exercendo uma função de chefia, até umas férias de 30 dias eram difíceis de tirar, o que dizer sair por noventa.

Mas 2010 chegou e quando eu menos esperava fui dispensado, sem mais nem menos, daquela função. O que inicialmente me chateou bastante, já que tive uma perda financeira bastante significativa (e inesperada), foi a “senha” para iniciar o projeto desta viagem, que havia tempo eu pensava em fazer.


A questão agora era essa: eu tinha tempo, mas não tinha dinheiro. Não demorou muito decidi então vender meu carro para financiar os dois meses e meio na Europa. Na semana anterior ao início da viagem, estreava em Porto Alegre o filme “Comer, Rezar, Amar”. Na sua passagem por Roma a personagem vivida por Julia Roberts fala de uma piada sobre um cristão que vai todos os dias a uma Igreja, para diante da estátua de um santo e pede para ganhar na loteria. Faz isso por anos, nunca ganha, até que um dia, não agüentando mais ver aquilo se repetir, o santo ganha vida diante do cristão e lhe diz: “Meu filho, se tu quer que eu te ajude a ganhar na loteria, por favor, compre um bilhete!”

Foi o que eu fiz: troquei meu carro por um “bilhete de loteria”, que neste caso era uma passagem para Lisboa e um passe de trem para Europa, botei algumas roupas em uma "sacola do Zaffari" e me joguei na maior aventura da minha vida até agora.



Valeu Europa. Não sou mais o mesmo depois desta viagem. Fecho os olhos e ainda sinto o cheiro das ruas, dos metrôs, dos cafés, dos Hostels, a conversa cotidiana das pessoas nas mais diversas línguas, a batida do meu coração a cada nova descoberta. Todos esses sentimentos somados são o fruto de tudo isso, é esse imensurável que eu trago comigo para o Brasil, para Porto Alegre, para minha vida, para o meu dia a dia, espero que para ser uma pessoa um pouco “melhor”, mais livre, mai serena, mais leve.

Valeu Europa. Valeu cada filho ou cada filha deste continente que me ajudou a crescer, desta ou daquela maneira; da solidariedade grega à indiferença francesa, tudo foi experiência, tudo foi crescimento. Com um abraço ou um esbarrão, um sorriso ou um nariz torcido, uma orientação exata na hora certa ou um “only for costumers”, quando eu estava na rua desesperado atrás de um banheiro, tudo foi igualmente importante, me ajudaram a seguir em frente e chegaram até aqui.



Valeu Europa. Da efervescência cosmopolita de Londres à inquietante memória de Auschwitz, dos cenários cinematográficos de Veneza à autenticidade catalã de Barcelona, da bela e polêmica Amsterdam ao mergulho nas origens do homem e da sociedade ocidental em Atenas, do mea-culpa de Berlim à festiva Munique, do majestoso (e não mais misterioso) leste de Praga e Budapeste a Paris, que talvez tenha apenas um defeito, enfim, Roma, Estocolmo, Rotterdam, Lisboa, Porto, Bruxelas, Bruges... devo estar esquecendo alguma coisa.

Sou muito grato a muitas pessoas, não poderia escrever aqui o nome de todas elas, primeiro porque precisaria um post inteiro só para isso, depois porque ainda assim esqueceria de alguém. Mas desde aquele meu chefe que me dispensou da função no início do ano, passando pelo companheiro que me conseguiu os contatos na Europa, as pessoas que me receberam em suas casas, aquelas que cuidaram do Jimmy K enquanto eu estava fora, minha família, colegas de trabalho, amigos, o pessoal que acompanhou e participou no blog, facebook, twitter, etc., mas principalmente aqueles que, diariamente, nos últimos dois anos, me deram condições para poder realizar esse sonho - e todos os demais que eu quiser.



No livro Comer, Rezar, Amar, a autora Elizabeth Gilbert fala da “física da procura”. Mesmo sem conhecer este “conceito”, sinto que foi ele que me moveu durante todo o tempo. Diz a autora: “aprendi a acreditar que existe no universo algo que eu chamo “A Física da Procura” – uma força natural governada por leis tão reais quanto a lei da gravidade ou do momentum. E a regra da Física da Procura deve ser alguma coisa como “se você for corajoso o suficiente para deixar para trás tudo que lhe é familiar e reconfortante (que pode ser qualquer coisa – da sua casa a seu velho e amargo ressentimento) e partir em uma viagem em busca da verdade, (interna ou externamente), e se você está sinceramente disposto a ver tudo que lhe acontecer durante essa viagem como um ensinamento, e se aceitar cada um que encontrar durante a viagem como um mestre, e se você estiver – acima de tudo – preparado para encarar (e perdoar) algumas realidades desagradáveis a seu respeito, então a verdade não lhe será ocultada. Essa é minha crença, não posso deixar de acreditar nisso, baseado na minha experiência." É a minha também, senhora Elizabeth.



sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Uma outra retrospectiva

“Fados e fotos” que marcaram estes setenta e quatro dias no novo velho continente.

Durante a viagem tirei muitas – muitas mesmos – fotos. Foram mais de cinco mil. Um dos maiores trabalhos que tinha era selecionar quais colocar nos posts. Também fiz vários filmes (uns 50), mas muito poucos eu consegui postar; alguns ficaram grandes e pesados para fazer upload, outras vezes (a maioria delas) ocorria alguma falha técnica nos computadores dos hostels ou das lan-houses, ou o tempo acabava durante o upload... enfim, tenho vários vídeos bem legais, como os esquilos no Saint James Park, em Londres ou a Torre Eiffel piscando em milhares de luzes como uma árvore de natal gigante, além da vibração e da diversidade de Las Ramblas em Barcelona e do Candem Market, em Londres.

Bom, mas se para escolher 15 ou 20 fotos de cada cidade não foi fácil, imaginem uma ou duas. Foi o que eu tentei fazer neste último post. Para isso, procurei dar mais ênfase ainda ao tema do blog, e colocar aqui imagens que traduzam a minha visão e sentimento de cada lugar que passei.


Uma casinha coloridinha na beira do rio (Copenhague)

Cura até dor de cotovelo (Lisboa)
Dois grandes companheiros: Arno e Maurice (Rotterdam)

O mundo não consegue - e não deve - esquecer (Auschwitz)
Cidade luz... cidade-cor, cidade-cheiro... (Paris)

Caiu a ficha (Berlim)
O endereço mais aguardado (Bruxelas)



Na Europa também não se respeitam os sinais de trânsito (Bruges)

Nicolas, o taxista grego: autosustentável (Atenas)

Passeio à moda antiga (Cidade do Porto) 

Quase cinquenta idiomas, uma só mensagem (Estocolmo)

O momento mais espiritual da visita (Vaticano)

Torcida árabe se destaca no Allianz Arena (Munique)

Uma cidade sobre o mar (Amsterdam)
London Eye (Londres)

Carnaval sem samba e sem mulata (Veneza)

Recuperando as energias (Budapeste)

Fim de tarde no Mediterrâneo (Ilha de Hydra)
Criançada se divertindo na neve (Versailles)

Detalhe da pista atlética da cidade olímpica (Roma)

Paisagens de cinema pela janela do trem (Fussen)

"Pelos poderes de Greiscow!" (Praga)

Uma bala por uma foto (Bruges)

Titanic sem banda de música (Brindisi)
Oferta do dia: hemorragia cerebral por 2,50 (Munique)
Arte popular universal na East Side Gallery (Berlim) 

Ninguém suporta o frio (Madri)
Viva a anarquia! (Barcelona)



Chimarrão das cinco (Londres)

Os retratos da crise (Atenas)

A fé remove montanhas (Veneza)

Grenal em pleno leste europeu (Praga)

Red Light District: trabalhadora chegando para mais um dia de serviço (Amsterdam)

"Como folhas secas pelo chão, nas frias tardes de outono..." (Munique)
 
O prêmio máximo do guerreiro é morrer no campo de batalha (Paris)

On Anon: tendências sonoras (Londres)
Meninas superpoderosas (Rotterdam)
Para limpeza pesada de qualquer superfície (Madri)

Edward faz graça em Las Ramblas (Barcelona)

Entre, fique à vontade. Aceita um café?

Muitas músicas fizeram a "trilha sonora" da trip. Meu Ipod teve 4 versões: saiu daqui com uma, que foi toda desconfigurada na primera semana, carregando a bateria em uma lan house em Lisboa, uma segunda, "de emergência", que o gerente de muito boa vontade de uma loja da Apple em Lisboa me gravou no dia seguinte ao desastre, com uma salada musical mais variada (e estranha) possível, uma terceira, que o Arno me copiou em Rotterdam, muito boa, e a quarta e melhor de todas, gravada do Cizinho em Madri (que continua até hoje).

De tudo isso fiz uma seleção das 12 músicas que mais me marcaram em diferentes momentos e por diferentes motivos, no decorrer do tempo, dividida pelas fases do Ipod.

Fase 1

The Killers - Somebody Told Me (versão remix "extended")

Essa versão eu não conhecia, já saiu "pegando" no aeroporto de Guarulhos e foi assim até o trágico fim.


Fase 2

Black Eye Peace - One Tribe


Bob Sinclair - Together


Estas duas me marcaram muito pelas letras de paz e união entre as pessoas e os povos, e apareceram bem no momento em que eu estava começando a viagem, "aprendendo" a ficar sozinho e me acostumando com uma série de coisas. Várias vezes eu saia cantando (gritando) sozinho na rua essas músicas.

Jonh Mayer - No Such a Thing


Fase 3

Temple Of The Dog - Hunger Strike

Clássico absoluto da trip, teve seu refrão gritado á exaustão pelo leste europeu.


Pearl Jam - Black

Idem ao coemtário anterior


Red Hot Chilli Peppers - This is The Place

Se tem uma música que ficou relacionada com uma cidade, é esta música com Amsterdam.


Fase 4

Simple Plan - Everytime

Essa foi a banda mais difícil de escolher uma música, a verdade é que todas são clássicas e eu me arrepiava ouvindo umas 4 ou 5, no mínimo.


The Sounds - Tony The Beat

Aqui começa uma série de 3 bandas que conheci na viagem (em Madri), a primeira é esse torpedo de electrorock. Para completar, vejam a vocalista ao vivo.

Bowling For Soup - Where to Begin

Outra banda clássica, talvez a melhor de uma safra nova que eu trouxe de lá.


Deashboard Confessional - The Places You Have to Came to Fear The Most

Essa baladinha fecha a seleção, não por acaso. É ouvir e entender (ou não) o porquê. 



segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Paris

Porto Alegre, 21/12/10, terça-feira, 15:00 horas

A chegada em Paris começa pela saída de Londres. O trem saía as 9, como o check-in do Eurostar começa uma hora antes, coloquei o despertador para 6:30, sair 7 e chegar 8 na Estação. Ficamos até tarde conversando na noite anterior - eu, o Egberto e o Ali, nosso amigo do Irã - resultado: acordei 7:45, apavorado, nem notícia de ouvir o despertador tocar. Em 5 minutos estava eu e o Egberto voando pelas ruas de Londres com as mochilas até o metrô. Cheguei 8:30 no check-in (minha mala ainda foi retida para revista!), e entrei no trem exatos dois minutos antes de fecharem as portas. Ainda não foi desta vez.

Meu guia de viagens fala de duas piadas que existem na Europa: uam diz que o problema ds França são os franceses e outra que o problema de Paris são os parisienses. Não posso falar do resto do país, mas do povo da capital tive uma péssima impressão. Todas as estórias a respeito do comportamento típico do franceses para com os “estrangeiros” se confirmaram: arrogância, indiferença, má-vontade, nenhum interesse em se comunicar em outra língua que não a deles. Se tivesse que resumir a atitude dos parisienses em uma palavra seria “ridícula”. Para ajudar, vim de Londres com uma toca de lã que comprei por lá com a bandeira britânica (eterno rival), o que agravou ainda mais meu caso. No metrô, várias vezes senti um “mal-estar” por causa da toca, franceses (e francesas também) me encarando ostensivamente com cara de pouquíssimos amigos. Como era a única que eu tinha, estava frio de gelar a alma e (neve todos os dias) e o mau-humor desse pessoal faz parte mesmo do folclore, resolvi relaxar e curtir essa parte da viagem também.

Por falar em neve, esta deu um show a parte, principalmente nos últimos dois dias, quando a cidade ficou compeltamente branca. Eu que nunca tinha visto, nem na nossa serra, fiquei maravilhado.

Sobre Paris, realmente impressiona pela beleza: os grandes boulevards, o Rio Sena, a Champs Elyssés com o Arco do Triunfo, o Louvre, a Notre Dame, a Torre Eiffel, Moulan Rouge, Quartier Latin... enfim, é uma infinidade de atrações que os 4 dias que passei por lá foram suficientes para conhecer o básico do básico.

No último dia fiz um passeio que realmente ficou bem como “fechamento” da viagem: fui até o Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris. Este palácio, que foi morada dos grandes reis franceses (Luis XIV, Luis XV, Luis Felipe, Napoleão), é considerado por muitos não o mais maravilhoso da França, mas de todo o mundo.

A neve. A neve é muito bonita, tirei várias fotos, as crianças se divertem (alguns adultos-crianças também), mas quando os aeroportos fecham sem previsão, todos os voos são cancelados e tu tem 10 euros no bolso, uma mala cheia de roupa suja e uma conexão para o Brasil em um país distante em menos de 24 horas, a neve continua linda, mas perde um pouco da graça. O próximo voo disponível da Easyjet era daqui a 6 dias (me lembrei daquele filme do Tom Hanks, “O Terminal”). Eu tinha duas opções: um trem que saía às 15:50 e chegava em Lisboa às 10:30 do dia seguinte (meu voo era às 11) ou rezar para São Pedro e tentar outros voos mais tarde, por outras companhias, em outros aeroportos (me lembrei de outro filme do Tom Hanks, “À espera de um milagre”). O detalhe era que nada era garantido, nem o assento no trem nem os voos mais tarde. Mas “Milagres Acontecem” não é só o nome de um livro; consegui uma internet emprestada e descobri um avião saindo do outro aeroporto (Orly) pela TAP com conexão na Cidade do Porto e chegada em Lisboa de madrugada. Reservei e me mandei para Orly, decidido a embarcar de qualquer jeito, passar a noite no aeroporto mesmo e no outro dia vir embora. Chegando lá o funcionário da TAP ainda conseguiu me colocar em um outro voo, mais cedo e direto para Lisboa, onde consegui chegar a tempo de dormir no Hostel que passei os primeiros dias da minha viagem pela Europa e pegar o avião no dia seguinte para o Brasil, chegando em casa quase duas da manhã, de onde escrevo este post agora. Milagres acontecem.


Uma legenda da cidade: o Museu do Louvre

A sepultura de Alan Kardec, uma das tantantas "celebridades" do Père Lachaise
Meu último endereço na Europa
A querida viajante Heloísa: "uma grande jornada começa pelo primeiro passo..."
A cidade-luz ainda mais iluminada para o Natal
O gótico da Notre Dame inspirou o filme de Walt Disney
Detalhe do interior da Catedral
Quartier Latin, o bairro onde tomaram corpo os principais movimentos intelectuais
Aqui estão enterrados Voltaire, Russeau e Vitor Hugo, entre outras genialidades
O George Pompidou é mais visitado que a Torre Eiffel
Sena: a beleza de um rio intraduzível em palavras
o Parlamento francês: bem protegido
A vista de baixo da Torre Eiffel
A de cima vou ficar devendo
Já volto, a Nicole Kidman está me chamando...
A entrada principal do Louvre, que é dividido em três pavilhões: prepare-se para caminhar
Centenas se aglomeram: La Gioconda
"She rests at last beneath the starry skies..."
O Palácio de Versailles: sinônimo de nobreza francesa

A sala dos espelhos: fenomenal
Charles de Gaulle abaixo de zero
Caos
Sim, milagres acontecem: embarcando pela TAP para Lisboa